Resenhas, artigos e contos

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[Resenha - Duna, de Frank Herbet] Não desperdice água!

  
Editora: Nova Fronteira
Autor: Frank Herbert
Tradutor: Jorge Luiz Calife
Ano: 1984
Páginas: 671
Skoob
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Sinopse: A vida do jovem Paul Atreides está prestes a mudar radicalmente. Após a visita de uma mulher misteriosa, ele é obrigado a deixar seu planeta natal para sobreviver ao ambiente árido e severo de Arrakis, o 'Planeta Deserto'. Envolvido numa intrincada teia política e religiosa, Paul divide-se entre as obrigações de herdeiro e seu treinamento nas doutrinas secretas de uma antiga irmandade, que vê nele a esperança de realização de um plano urdido há séculos. Ecos de profecias ancestrais também o cercam entre os nativos de Arrakis. Seria ele o eleito que tornaria viáveis seus sonhos e planos ocultos?


Resenha

Esse romance necessita de uma atenção acima da média. Há um leque abrangente de expressões e conceitos da própria história que podem confundir o leitor. Felizmente, alguns apêndices no final do livro orientam a compreensão do enredo - a versão que eu li era a de 1984, da Editora Nova Fronteira; provavelmente os apêndices foram mantidos na edição da Editora Aleph, lançada em 2010. Mas passando da metade do livro, o leitor já consegue se familiarizar com o universo da trama e a imergir mais facilmente no livro.

Na verdade, uma palavra para representar o ritmo de Duna é... frenético. São raros os momentos de leitura maçante em que a história não avança, como as cenas onde prevalecem a jornada por entre os cenários arenosos do deserto, descritos precisamente em relação a vivência em tais lugares secos. A trama consegue elevar e diminuir constantemente a tensão, um ritmo cativante amparado pela divisão do livro em três outros arcos menores. Dessa forma, o desenvolvimento do enredo sempre demonstra um início e um fechamento que dá corda ao próximo arco, contribuindo bastante para manter o leitor preso em suas 600 páginas.

Os capítulos não são nomeados, apenas apresentam uma introdução: a citação de algum livro do universo de Duna para contextualizar a trama referente ao capítulo, ou seja, uma epígrafe. Um método estiloso e chamativo que dá uma cara diferente ao texto. Acho bem interessante este tipo de início, pois coloca uma grande expectativa na leitura a partir de frases intrigantes.

É estranho como as histórias de "escolhidos", apesar de ser um eterno clichê, ainda cativam, desde que sabiamente usadas. O messianismo que prevalece no enredo de Duna consegue ser bem envolvente e um pouco diferente de outros personagens desse tipo. É complicado discernir nitidamente o porquê de Paul Atreides (protagonista) ser diferente, mas é um personagem atormentado, sempre imerso em dúvidas, e suas ações, apenas de vez em quando, portam aquela onipotência que um "escolhido" carrega. Ao mesmo tempo em que ele é um messias para o povo de Arrakis (Duna), ele parecer ser um personagem como qualquer outro.

Duas palavras conseguem sobressair facilmente no enredo de Duna: política e cultura. É impressionante a habilidade de Frank Herbert em movimentar, na trama, ambos os significados de forma intrigante e poderosa. Os diálogos politizados entre os personagens conseguem ser interessantes e concisos. Aliás, boa parte dos diálogos do romance, por suportarem um peso simultaneamente racional e emocional, concebem um ponto positivo para a leitura.

No plano cultural, temos os costumes dos Fremen (povo do deserto) que faz alusão direta à escassez de água no planeta e já puxa um gancho para a questão ecológica retratada pelo autor. A importância da água em Arrakis é bastante relevante, e a ausência desse líquido gera costumes peculiares em seus habitantes. Trajes destiladores conservam a água do corpo do indivíduo, capturando a umidade e reservando o líquido em uma bolsa do traje; há tendas com esse mesmo planejamento de conservação. Até mesmo o fato de alguém chorar é visto como um desperdício de água.



No planeta, vermes gigantes se movimentam por baixo do deserto e irrompem da areia ao menor passo sobre o terreno arenoso. Especiarias conferem uma cor azulada aos olhos e possuem propriedades geriátricas. Humanos chamados Mentats são treinados para pensar logicamente como computadores, já que o Império proibiu o uso de máquinas pensantes. Isso e muitos outros elementos permeiam o enredo de Duna, dotado de uma riqueza imaginativa exuberante. Não à toa, o livro é considerado um clássico da ficção científica e vencedor de prêmios importantes como o Hugo e o Nebula.

Apesar do enredo fechado, Duna é o primeiro volume de uma série de livros: O Messias de Duna, Os Filhos de Duna, o Imperador-Deus de Duna, Os Hereges de Duna, As Herdeiras de Duna.