Essa
é uma postagem publicada no meu blog anterior, mas ainda muito pertinente ao
âmbito literário, e creio que continuará sendo pelos próximos anos. Logo,
reproduzirei aqui (com sutis modificações) o artigo publicado.
No
dia 22/05/2012, fui a uma palestra do escritor Luis
Eduardo Matta sobre Literatura Juvenil e a Formação do Leitor, na
Academia Brasileira de Literatura. Há algum tempo venho me interessando sobre o
assunto, tornando-o, aliás, pauta para minha futura monografia de conclusão de
curso na faculdade. Meu interesse pelo assunto é grande e esquadrinho todo o tipo de
conteúdo a respeito — livros, monografias, artigos, podcasts, palestras e etc.
Foi com o intuito de aprender um pouco mais que compareci à apresentação do
Luis.
Essa
questão da formação do leitor é muito abrangente e delicada, e sinto que é
pouca tratada nos meios acadêmicos, quando deveria ser um assunto de
urgência e correntemente discutido. Tenho a impressão de que há certo receio ao
debater esse tema, pois, indubitavelmente, entraria numa literatura
erroneamente mal vista ou desprezada por algumas mentes intelectuais: a de
entretenimento. E, como se não bastasse, o contexto atual da nossa sociedade,
envolta a toda hora de novidades tecnológicas aliciantes, diminui ou quase que
extermina um tempo dedicado ao livro, um objeto quase arcaico e sem atração
para uma geração informatizada. Tendo em vista essas mudanças sociais, acho
imprescindível uma preocupação com o livro, que embora tenha sido beneficiado
com alguns avanços editorias, está perdendo o encanto ao lado de maravilhas
tecnológicas. Portanto, precisamos dizer aos jovens de hoje que os jogos de
video-game, os filmes em 3D, a internet, e outras coisas não são as únicas
maravilhas do mundo. Os livros também (físicos ou virtuais).
Dentre
todas as feições sobre o tema, irei salientar aqui alguns que merecem reflexão.
Primeiramente,
há uma equivocada impressão de que a cultura erudita está associada à classe
alta e a cultura de massa à classe baixa. Isso é uma visão preconceituosa e
elitista, uma falsa generalização. O Matta ilustrou esse erro contando a
respeito de um homem, de posição humilde, que possuía um incrível acervo de
música clássica; do outro lado, temos indivíduos abastados tocando funk da mais
baixa linguagem em festinhas da noite. E, na literatura, creio que não seja
diferente: um livro de “literatura de massa” ou de uma “literatura de proposta”
pode ser lido por leitores de todas as classes. Apenas porque uma pessoa teve
mais “privilégios” que outras não significa dizer que ela é mais bem capacitada
intelectualmente. Associar o gosto literário a fatores econômicos é querer
simplificar precipitado e injustamente essa questão de alta ou baixa literatura
(prefiro chamar esta última de literatura de entretenimento). Aliás, tal
divisão, em minha opinião, seria válida no sentido de predizer qual a proposta
literária de cada tipo; ou seja, enquanto uma literatura mais séria emprega
grande carga de reflexão ou de experimentalismo linguístico, a outra se foca
mais na sedução por uma narrativa que conte uma boa história. Essa separação
seria conveniente neste ponto de vista, mas, infelizmente, é vista como
separador de qualidade literária. Aí já entraria a questão do que seria esta
“qualidade literária”, mas prefiro não enveredar por esse caminho no momento.
Na verdade, eu concordo com as palavras do Luis Eduardo Matta a esse respeito:
“Tudo é Literatura”.
Um
segundo ponto importante é como a aquisição de obras pela internet impulsionou
o hábito de comprar livros, principalmente nos jovens. Em meados dos anos 90
era muito difícil (e ainda é) encontrar livrarias próximas de casa. Aqui, no Rio
de Janeiro, por exemplo, pelo menos na região onde moro, é complicado achar uma
boa livraria, pois mesmo as mais próximas possuem um acervo muito pequeno,
restando apenas o centro da cidade para adquirir algum título pouco comum. A
mesma questão, só que numa proporção muito maior, vale para as bibliotecas. E,
além de escassas e mal distribuídas, há o fato de que a pessoa não entrará numa
livraria ou numa biblioteca se não estiver realmente interessada. É preciso
antes semear o gosto pela leitura nas pessoas, é preciso formá-las leitoras.
Então, voltando ao século XXI, temos a internet, assumindo tanto um papel de
vilã, na medida em que afasta a atenção dos jovens do ato de ler, como de
heroína, incentivando a leitura de livros por meio da interação entre seus
usuários nas redes sociais e em blogs literários. E, no caso da aquisição de
livros, sites de compras existe aos montes em que o leitor pode obter um livro
mesmo que a livraria mais próxima fique a 100 km de casa.
Ainda
sobre a inclusão tecnológica na vida dos jovens, a aproximação entre os
leitores gerou um grande “boom” de interesse. Quem antes só tinha um amigo ou
ninguém para discutir sobre determinado livro, hoje, acessando a internet, é
possível se comunicar com todos os outros leitores conectados a rede. É um
exercício de interação empolgante e viciante. É uma ferramenta perfeita para o jovem “logado” que pouco estímulo
teria se não estivesse em contato com outros leitores: poderia muito bem
ocorrer dele gostar de um livro, mas não ter com quem compartilhar essa
alegria. O meio virtual permite interação não só com os leitores, mas melhor ainda,
com os próprios escritores. Em suma, ao contrário do que se pensa, a internet
vem se provando uma ferramenta muito forte no contínuo interesse pela leitura.
E,
já que falei no contato escritor x leitor, vale dizer que a visita de um
escritor a uma escola é também uma ótima forma de despertar o interesse nos
jovens. Entrando em questões curriculares, o ensino da literatura na escola é
tão falho que não consegue nem mesmo implantar uma visão neutra a respeito do
livro, e sim negativa. Não canso de ver “traumatizados” que dizem nunca mais
pegarem um livro na mão. Infelizmente, os alunos alimentam uma relação de
afastamento com o livro, como se este fosse um objeto estranho, difícil, só
para intelectuais. Mas, quando um autor de literatura juvenil se encontra com
esses alunos, toda a estranheza se dissipa e o fascínio se liberta. O Matta e
muitos outros escritores realizam visitas frequentes às escolas e, pelo o que
contam, os estudantes se empolgam e o resultado final é satisfatório: novos
leitores interessados.
Por
último, gostaria de destacar, ainda no âmbito escolar, certo despreparo dos
professores de literatura. Tudo bem que é preciso seguir um currículo, mas
alguém que ame a literatura não pode virar escravo de um modelo de aula, que,
diga-se de passagem, é insalubre. É preciso buscar outras ferramentas para que
o aluno crie o gosto pela leitura. O Luis narrou o episódio de uma professora
que desgostou da resposta de um aluno a respeito da interpretação de um livro
(O Guarani, se não me engano), argumentando que a resposta não batia com o
gabarito. No entanto, o escrito do aluno havia sido plausível e coerente, mas
ainda assim a professora não o aceitou. Motivo: nem ela própria tinha lido o
livro. É uma tragédia que dá vontade de rir, não?
Há
muitas outras questões levantadas pelo assunto e que não caberiam numa única
postagem. Gostaria que vocês, leitores, pudessem
refletir a respeito.
5 comentários
Muito pertinente seu texto. Sou formada em Literatura e, na faculdade, parte dos meus colegas de turma tinham preconceito com a literatura popular e Hqs. Aquelas velhas ideias de que existe uma escrita superior (que só os autores cânones possuem), best-sellers são uma literatura menor e HQs são para crianças. Felizmente, para mim, tive a chance de estudar com professores que não compartilhavam dessas ideias e desafiavam esses meus colegas mais preconceituosos. Sempre entendi que a leitura deveria ser feita por prazer. E com certeza não se consegue atrair mais leitores dizendo que o eles leem é inferior e empurrando-lhes um Machado de Assis, por exemplo.
Que coisa boa ler seu texto!
Que coisa boa ver uma pessoa interessada neste assunto,com disposição para para teorizar sobre ele!
Você nos convida para refletir sobre o tema e eu não só aceito o convite,como te conto que este é um assunto incansavelmente comentado em minha casa e entre amigos!Acho que tenho sorte...rs.
São várias pequenas questões e não tem mesmo como falar de todas mas,por tudo que li aqui,só posso parabeniza-la!